quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Jaula

Sinto-me mal depois de beber o elixir, a carcaça está demasiado jovem.
Sou um espírito maduro, comprimido num corpo adolescente.
Faltam-me as rugas, a barba, a mulher e os filhos.
Falta-me a remuneração mínima estabelecida pelo estado para sustentar os vícios, para criar discussões.
Ou então falta-me o charme, a cultura, a casa vazia, os encontros caprichosos com desconhecidas.
Tudo isto torna-se difícil com esta face de miúdo, idade das festas, bebedeiras e afins. Onde se pensa que tudo vai acontecer e no final a desolação é o único sentimento presente.
Sinto-me mal, estou farto de ouvir a raiva, de sentir o suor proporcionado pela força que exerço para manter selado quem sou.
Para voltar ao normal tenho de ser paciente e esperar pelo Outono.

1 comentário:

  1. tal como a palavra "adolescência" nos diz inequivocamente, esta fase é caracterizada pelos mitos que queremos deslindar, pelas boas coisas da vida que ansiamos viver e pelos sentimentos repletos de incomensurabilidade que perscrutamos a cada dia da nossa existência, a cada abafo da nossa respiração .
    mas, será que as boas coisas da vida são suficientes para tranquilizar o nosso corpo e a nossa vontade indecente de viver o impenetrável, a ponto de deixar o corpóreo de lado ?
    o mundo está cheio de bocas que criam ilusões na cabeça dos mais frágeis, de mãos que decidem vaguear pelo que não lhes pertence, de olhos que não vêm para além do exterior . então, como será possível viver num mundo em que tudo é físico e material ? haverá então espaço para os cristais e para as pérolas ?
    todos estas questões parecem ter resultados inverosímis (...)
    sendo assim, prefiro mergulhar na sensação de que nada existe e de que a dor morreu, usando a heroína, o estupefaciente que me leva aos sítios onde quero ir, no momento em que escolho mudar a minha vida para sempre .

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