terça-feira, 15 de setembro de 2015

Koi

Acordei e estou a flutuar num rio de emoções.
Atordoado tento tocar-me para me sentir até porque já algum tempo que o meu subconsciente sabe, mas o consciente finge que nada de anormal se passa.
Não sinto os meus membros, para ter provas vivas do que se passava olhei para o meu reflexo nas águas limpas de água doce em que me encontrava.

Metamorfoseei-me.

A minha estrutura diminuiu consideravelmente.
Os meus lábios carnudos são agora uma boca minúscula.
Tenho agora uns enormes barbilhões, quase como um antigo samurai japonês.
Não me lembrava que vestia umas cortinas de lantejoulas prateadas, antes de adormecer.

Sou um peixe.
Da forma como a corrente me força no caminho contrário ao meu destino, sou uma Carpa.
Se me deixo levar pela força exercida naturalmente pelo fluxo do rio, vou ser mais um amontoado de guelras desfeitas no fundo do percurso para sempre.
Nunca fui um bom nadador, sempre me safei, como em quase tudo na minha vida.
Sempre dei uso somente ao necessário mesmo sabendo que podia atingir metas enormes com um simples esforço.
Agora a minha vida depende da minha motivação para que estas escamas continuem a brilhar com reflexo do sol.


segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Espanhol e não me importo.

Cada vez me encontro mais.
(Tem sido uma frase redigida várias vezes ao longo da minha escrita, e vai continuar a sê lo.)
Estou em constante aprendizagem e sinto-me cada vez mais perto do Verão.
Como tenho abruptamente e repetidamente saído da minha zona de conforto acabei por transformar o desconhecido num dos melhores aconchegos que já antes tinha usufruído.

Ainda com pouco sangue no álcool, devido à noite de festa.
Meio a dormir, voltei a pôr o meu coração a palpitar quase que sincronizado com o ponteiro dos segundos daquele relógio de parede velho e icónico, pendurado na casa da minha avó.
Como sempre a ansiedade corrói-me por dentro, mas mal vi aquele olhar previ que algo bom dali viria.
Adoro o contraste da experiência com a minha ingenuidade.
Ingenuidade essa que vai desvanecendo aos poucos, por isso tento tirar o melhor proveito dela enquanto existe.
Já no vale dos lençóis, com os sentidos apurados na busca pelo prazer, adorei sentir as tuas mãos a percorrer-me o corpo, os teus lábios nos meus.
Foi tudo muito gradual e atempado, como mandam nos livros.
Depois de trocas e cambalhotas, já quando o suor me escorria pela testa e a adrenalina fazia de nós animais sedentos de prazer, previ o pico.
E soltei um grito afónico enquanto em ciclos rápidos os meus músculos se contraíam.

Depois deitado, dando uso novamente ao tato e ao olfato, disfrutei daquele momento pós carnificina.
Aquele que para mim é o momento mais ansiado, quando já explodiste e todas as guardas estão agora rebaixadas.
Adoro este limbo após ter atingido o nirvana.

Mais uma vez senti um aroma natural que me apetece guardar numa proveta.
Pareço o Jean-Baptiste Grenouille, aquele psicopata que protagoniza "O Perfume".
Sinceramente não me interessa o que pareço, nem a minha imagem aos olhos de outrem, estou bem comigo mesmo e estas experiências de partilha, onde as trocas de histórias me ajudam a definir o caminho que quero percorrer, fazem me sentir ainda melhor.

Depois daquelas horas de prazer chateia-me ter de ser frio na hora do adeus como se nada tivesse acontecido.
Pelo caminho de volta pensei mil uma vezes em trazer o calor do teu quarto e expressar o meu contentamento em ter-te conhecido com um beijo.
Normalmente acabo por não fazer o que quero e arrependo-me no momento a seguir.
Vou começar a andar com um alfinete comigo, mais tarde ou mais cedo, rebento esta bolha transparente que me envolve, que por um lado me protege, mas por outro me prende de ser quem sou.

quinta-feira, 3 de setembro de 2015




Em certos pontos estou orgulhoso por não ser mais um modelo a seguir.
Que se foda!
Sou uma puta de uma montanha russa, com uma estrutura ferrugenta que emite ruídos ensurdecedores onde quer que a carruagem passe.

Estou sentado a olhar a tua cara de prazer, enquanto te entregas nesta viagem.
Quase pareces uma personificação total dos "Três Macacos Sábios", aquele máximo pictórico Japonês.

Como o Mizaru, cerras os olhos, com medo da intensificação do momento, proporcionado pela visão.
Como o Mikazaru, cobres as orelhas com medo que a minha respiração te eleve mais rapidamente do que realmente desejas.
Agora o Mazaru, o que bloqueia a boca com a mão para não dizer o indesejado. 
Esse não o vejo em ti.
Até porque nem com a ajuda das tuas mãos abafas esses gemidos de prazer!